CAPÍTULO
2
Universo
por Sivan
A sensação gelada da Lua tocou minha pele e
fiquei paralisado por alguns segundos. Era real. Novamente. O meu campo de visão estava limitado somente por
escuridão e várias cadeias montanhosas com coloração prateada. Um barulho
curioso surgia mais a frente, algo como água.
Um mare lunar. Da primeira vez que surgi aqui,
eu estava com ele, somente de relembrar aquela situação me fez arrepiar
estranhamente. Era como se eu estivesse caminhando para a morte, pois pessoas
inteligentes, comuns e humanas não vão atrás de quem quer te matar, ainda mais
quando quem deseja fazer isto é um ser extraterrestre, poderoso e estagiário do
temido Imperador de Andrômeda. Mas eu sempre fui daqueles que não gostava do
comum.
Dei alguns passos e vi o barco em minha frente,
a aparência era de muito uso e algumas madeiras estavam podres. Entrei e sentei
rezando para que nada acontecesse.
O silêncio era mortal enquanto eu navegava no
Imbrium, o mare lunar, talvez a última vez que ouvi um silêncio tão poderoso
quanto esse foi quando o Sr. Chang se irritou com a nossa sala.
As montanhas lunares estavam tão perto do barco
que pensei que iriamos colidir, uma enorme estava a poucos centímetros de mim e
passei a mão. A poeira cinza ficou nos meus dedos.
Algum tempo depois, o barco parou com um
solavanco – o que significava que tínhamos chegado a terra, e para a minha surpresa não vi nada do que gostaria de ver
ao chegar à Lua de novo.
Me assustei quando vi várias naves espaciais
diferentes em volta do local. Havia ônibus, naves, algo parecendo um carro de
luxo espacial e uma nave enorme, do tamanho de uma escola. Era totalmente escura
e flutuava no ar.
Dei alguns passos e cheguei à porta da Base Lunar,
ao me aproximar, ela se abriu sozinha, dividindo-se em duas. Eu tinha acabado
de deixar a Base e agora estava de volta. Andei mais alguns minutos até ouvir
vozes.
– ME SOLTEM! ME SOLTEM! EU EXIJO EM NOME DO
IMPERADOR! ME LARGUEM!
– PARA DE ME MORDER!
– PRENDAM ELE!
As vozes eram conhecidas. Mais conhecidas do que
pareciam ecoar em meus ouvidos. Apressei o passo e entrei no grande salão da
Base Lunar onde estive pela primeira vez. Tudo estava do jeito que deixamos
enquanto arrumávamos o recinto após o incidente há alguns dias atrás. Os
planetas feitos como maquete estavam rodeados no puff, a grande mesa estava no
meio e os computadores que não tinham sido quebrados quando Deimos e suas
estrelas de Andrômeda fizeram a sua saída triunfal estavam funcionando. Tudo
estava normal, exceto por uma coisa.
Uma pequena multidão rodeava uma figura pequena,
cabelos cinza, aparentando ter dez, onze anos no máximo, mas seu rosto estava
diferente, aparentava não ter dormido há dias devido a suas grandes olheiras,
seus cabelos prateados estavam derramadíssimos e suas roupas rasgadas. Abri a
boca em desespero, era ele? Eu não conseguia acreditar, era impossível. Ele se
balançava e tentava fugir dos braços de vários homens vestidos de preto que o
seguravam. O que ele tinha de diferente? A sua atitude. Seus olhos fuzilavam os
homens de preto com raiva, com ódio e principalmente com fúria, deixando
claramente a distinção entre ele e seu irmão. Era ele sim. Herbig.
Chloe estava ali, junto à Brandon. Chloe com
seus cabelos prateados e toda a sua brutalidade metia a sua mão na confusão
tentando agarrar a camisa surrada de Herbig e Brandon só olhava, levando as
mãos a seus cabelos.
– PETER! – o grito fino de Herbig ecoou no salão
principal e todos se viraram para olhar para mim.
– PETER! – gritou Chloe novamente, porem em outro tom, aquele de bem vindo de novo iremos precisar
de você mais uma vez.
De primeira, não consegui formular uma resposta.
O que Herbig estaria fazendo ali? Ele deveria estar morto! Eu tinha que dizer
algo, mas a situação atual tinha me feito esquecer.
– Peter, ele apareceu do nada, eu não estou
entendo nada do que está acontecendo. Ele está falando dele, Peter, dele! O esquadrão interespacial já foi
acionado e eles não conseguem o deter – a voz dela ecoou novamente em meus
ouvidos, mas não consegui raciocinar muito bem.
Na primeira vez que estive aqui, conheci os dois
irmãos, Haro e Herbig, enquanto eu estava sentado em um dos puffs prata
esperando o desespero passar e a acomodação do novo chegar. Herbig tinha sumido
algumas horas depois, supostamente engolido pelo satélite natural de Plutão,
Caronte, que naquele momento parecia estar nos atacando, mas não estava. Haro
embarcou com nós e morreu em Vitória, vitima de um ataque vindo do pai de outra
estrela que conheci: Austin. Em vários momentos, Haro afirmou e confirmou que
ele e seu irmão estavam interligados por mais do que o sentimento familiar,
eles eram ligados mesmo, caso um morresse, o outro também morreria.
Mas acho que era mentira.
– Ele está ali! – Herbig balbuciou se balançando
nos braços dos homens do Esquadrão – Ele é amigo dele! Amigo dele! O pai do
amigo dele matou meu irmão. Matou! E ele está lá, na escuridão, esperando a
morte e sou eu que farei.
– Cale a boca, menino! – disse um homem do esquadrão.
Ele deu um tapa na cara de Herbig quando o mesmo cuspiu em sua roupa.
– Haha, isso doeu como um beijo – rosnou Herbig.
– O que está acontecendo? – consegui dizer – Por
que ele está aqui?
– Conte para ele, Chloe, conte! – gritou Herbig,
que agora estava sendo amarrado em uma cadeira.
– Contar o que, Chloe? – Brandon entrou na
conversa.
– Eu não sei! – respondeu ela aflita.
– Eu vou matá-lo! – disse Herbig se mexendo da
cadeira. Tudo aconteceu muito rápido. Os braços pequenos dele se mexeram e um
lado se soltou, ficando livre. Uma energia negativa surgiu em seu lado e as
lâmpadas, e os eletrônicos piscaram. Uma pequena bola de cor roxo-escura surgiu
e explodiu lançando os homens do Esquadrão para o lado. Herbig flutuou alguns
centímetros do chão e nós nos viramos.
– Pare! – ameaçou Chloe – Você está em meus
domínios, Herbig.
Os olhos profundos de Herbig penetravam os de
Chloe. A tensão no olhar dos dois era totalmente visível.
– Não há mais seus domínios, Chloe. Pare de se
enganar. Demorou um tempo para que eu conhecesse a verdade, mas ele me mostrou
e me confiou muito mais do que qualquer um havia me dito aqui.
– O que? – respondeu Chloe.
– O Imperador, Chloe. Ele me acolheu naquele
dia! Ele me mostrou a verdade.
– Que dia? – rebati.
– O dia que Caronte veio buscar Deimos – ele
disse e me arrepiei. O Imperador estava na Base Lunar enquanto tentávamos fugir
da ameaça do satélite de Plutão. Ele estava aqui.
O silêncio se tornou absoluto. Chloe estava
paralisada.
– Ele veio ver se era verdade... que a Terra
havia liberado mais um herdeiro. E ficou muito feliz que sim.
Herbig tremeu como se tivesse tido um calafrio.
Algo me dizia que ele não estava bem com si mesmo.
– Feliz por quê? – perguntei.
– Grandes planos ele tem. Enormes, diria eu. E
eu estarei em seu lado, ele me convidou para se juntar a seu exército, mas com
uma condição, que eu me desmembrasse de núcleo e poeira com Haro – ele tremeu
de novo quando citou o nome do irmão – Mas eu descobri que morreu, por culpa de
alguém que eu achava que confiava, que meu irmão
acreditava.
Os homens do esquadrão se levantaram e sacaram
armas prateadas para Herbig, que ainda flutuava no ar.
– Herbig... – tentou dizer Chloe.
– Eu não quero saber – rebateu ele.
– Ele será preso e executado. O comitê
intergaláctico irá saber disso, irá.
– Me execute aqui – falou Haro erguendo seus
braços que estavam se enchendo de uma escuridão absoluta.
– O Esquadrão pode o repreender somente pelo
senhor estar utilizando matéria escura – disse o guarda. – Se renda.
– Eu não posso me render – se a voz dele
estivesse sendo medida por algum instrumento, tremeria como um bambu ao vento –
Eu preciso fazer meu dever.
Chloe se aproximou de Haro e ele recuou batendo
o pé no rosto de outro policial do Esquadrão, que caiu no chão com as mãos no
rosto.
– Você não tem dever nenhum Herbig. Você é uma
estrela jovem. Uma estrela que ainda não sabe o que quer e nem sabe o que será
quando crescer. Eu estou muito decepcionada que você esteja me dizendo isso.
Como você pode? Como você conseguiu ter coragem para se desmembrar de sua
própria família. Sua única família.
Haro morreu te procurando, você era a única coisa que ele dizia vinte e quatro
horas terrestres. Eu espero que você caia no retardo para sempre e nunca mais
volte a ver os Pilares da Criação.
Herbig encarou Chloe novamente. Seu rosto ficou
vermelho.
– Chloe, você não entende. Eu preciso fazer
isso. Eu necessito. Ele irá me matar se eu não fizer. Ele irá atrás de mim, ele
é cruel – falou Herbig.
– Fazer o que? – gritou Chloe aflita.
– Me desculpe, por favor.
– Desculpar do que? – ela questionou.
– Ele matou meu irmão. Eu preciso matá-lo.
– O quê? – perguntei.
E da boca de Herbig saiu:
– Eu estou indo matar Austin.
Saímos
do salão e fomos nos sentar do lado de fora da Base Lunar enquanto os guardas
imobilizaram Herbig depois de muita luta.
Primeiro, após confessar que iria matar Austin e
repetir ao menos umas dez vezes, ele perdeu força em sua levitação (por ser
muito jovem, Chloe insistiu) e caiu no chão, os guardas do Esquadrão
Intergaláctico que estavam atentos se jogaram em cima dele e ele ficou louco. O
que eu aprendi se chamar de Matéria
Escura surgiu em todo seu corpo como um escudo, porém o maior guarda o
imobilizou e o amarrou novamente no chão.
– Chloe, ele não era assim – disse.
– Ele sofreu lavagem cerebral, se isso for
possível em estrelas. Certeza. – falou – Eu já ouvi histórias sobre isso na
Terra. É verdade? É possível alterar a memória?
– Olha... não sei – respondi.
Sentamo-nos no chão lunar mesmo e contemplamos o
céu escuro. Algo naquela imensidão me fazia lembrar algo, mas algo estava me
bloqueando.
– O que iremos fazer? – perguntei.
– Precisamos de mais informações primeiro. Você o
ouviu dizendo? Ele está atrás de Austin, recebendo ordens do Imperador – ela
tremeu – Só de dizer esse nome eu me arrepio. Quem sabe ele sabe onde Austin
está?
– Eu achei que ele estava... você sabe, morto.
– Eu também. – respondeu ela abaixando o
tom.
– Peter,
sinto que estou metendo você novamente em outra roubada – e fez uma cara de duvida como se tivesse dito algo
errado.
– O que?
Sinceramente, neste ponto, eu não ligava mais se
eu estava me metendo em alguma roubada ou enrascada, ou em mais uma jornada. Eu
não tinha para onde ir.
– Eu disse errado, né? Não é roubada, é topada.
Estou metendo você em outra topada. – ela disse e sua expressão mudou
rapidamente de duvida para aquela que todos os alunos fazendo quando respondem
algo para o professor: “eu disse isso certo?”.
– É
roubada mesmo, e não, não está me metendo em nada não. Fique tranquila.
– Gente! – arfando, Brandon chegou correndo com
papéis na mão. – O Esquadrão já emitiu a nota oficial.
– Como assim? – perguntou Chloe incrédula.
Brandon fez uma cara de desapontamento.
– Eles simplesmente divulgaram para toda a Via
Láctea o que é o Imperador e o que ele irá fazer – disse Brandon.
– Me dá esse papel! – e um segundo depois, o
papel amassado já estava nas mãos de Chloe. Era um pedaço do “Universo Por
Sivan”
NOTA RÁPIDA: A
AMEAÇA ESCONDIDA AO NOSSO LADO
Escrito
por Sivan W.
Por milênios o Esquadrão
Intergaláctico esteve protegendo a Via Láctea e todo o Universo de ameaças a vocês,
e por milênios, desde Arcadia o Universo
Por Sivan traz em primeira mão o que acontece nesta vasta extensão de nossa
casa. O Esquadrão interceptou hoje com
sucesso um dos aliados de um dos opressores galácticos conhecido como
Imperador. Eu particularmente já sabia, porém havia ignorado para nosso bem,
mas a opinião mudou quando Zax Dethan, chefe do Departamento de Estrelas
Menores Infratoras que comandou a busca e apreensão, afirmou que o pequeno
delinquente disse coisas horríveis a respeito da Via Láctea e terríveis sobre o
Imperador. E confirmou que a ameaça está mais próxima do que nós imaginamos,
Dethan afirmou que o Imperador esteve na Via Láctea alguns dias atrás e seu
Império é exatamente ao nosso lado: em Andrômeda. Se tudo isso for verdade,
peço antes da pronuncia oficial do Sol que não saiam de suas constelações, não
andem sozinhos e não achem que vocês conseguem enfrentar esta ameaça. Na edição
de amanhã, o Universo Por Sivan trará
toda a cobertura completa sobre o Imperador. Aguardem.
– Pelos anéis de Saturno – exclamou Brandon após
terminar de ouvir Chloe lendo em voz alta – Isso é terrível.
– Brandon, ninguém lê essa revista – falou Chloe
– Esse Sivan é louco! – e amassou o pedaço de papel e jogou no chão.
– Chloe, isso é muito. Ele falou demais! –
Brandon voltou a dizer impaciente.
– Ninguém dá credibilidade ao que ele diz. Da
última vez ele tentou cobrir a Grande Guerra Lunar, mas começou a se perder no
conteúdo e no meio das matérias da revista lixo dele, começou a vender suas
camisas e depois dar selos para juntarmos em uma tabela para trocarmos por
acessórios S.W.
– Vocês realmente acham que Herbig tem coragem
de matar alguém? Ele parecia tão... normal da primeira vez que o vi, mas agora
ele realmente parece determinado – perguntei quebrando o silêncio que havia se
instalado entre nós.
– Se ele era de outro jeito, queria eu
conhece-lo quando ele era legal – disse Brandon sentando-se em uma rocha.
– Do jeito que ele está agora? Acho que sim –
respondeu Chloe com sinceridade – Você viu os olhos dele? Estão totalmente
estranhos, procurando algo, se mexendo incansavelmente. Ele não está normal,
repito: Aquele não é o Herbig que eu conheci.
– Eu sinto falta de Haro – confessei.
– Eu também. Eles eram os mascotes da Base
Lunar. Todos gostavam deles.
– Gente, olha isso! – anunciou Brandon com mais
papeis da revista “Universo por Sivan”
em sua mão. – É sobre as irmãs do Austin, não é?
– O quê? Me passa! – pedi.
No papel amassado, estava estampada uma foto das
irmãs de Austin, as três estavam paradas olhando para o chão, tristes. Seus cabelos eram tão
loiros que a má impressão da revista quase os deixou da cor do papel, junto com
suas peles pálidas como o gelo. A matéria que vinha a seguir era sobre o que
havia acontecido alguns dias atrás, quando ultrapassamos a barreira do Pedágio
do Universo.
O RESPEITO SE
FOI!
Mete
a denúncia!
Zeta, Epsilon e Delta reportaram para
o Universo Por Sivan com
exclusividade a falta de respeito de alguns seres estelares para com seu
trabalho. Ontem, as três irmãs da constelação de Órion, que cuidam de seu
negócio familiar: o Pedágio do Universo sofreram um ataque de três viajantes
não identificados.
“Não ligamos por termos perdido a
chance de lucrarmos com estes viajantes, mas sim pela falta de educação que
ficou clara com a visita deles” disse Epsilon.
Zeta não quis dizer nada para o Universo Por Sivan, pois diz estar
chocada com o que está acontecendo com a Via Láctea nestes dias. “Espero que
estes viajantes tenham a consciência de que existem algumas palavras mágicas.
Deixaríamos vocês passarem de graça em troca da educação, mas nem isso vocês
fizeram” ressaltou Delta.
Se você também tem alguma reclamação,
sugestão, desabafo, mande seu depoimento para o Universo por Sivan e publicaremos no quadro Mete a Denúncia!
– Brandon, estes viajantes que elas estão
citando somos nós. Passamos lá alguns dias atrás – explicou Chloe.
Lembrei-me daquele momento em que saímos da Base
Lunar, desesperados para fugir de Caronte e passamos no Pedágio do Universo. A
máquina gritando Improcedente ecoou em minha mente.
– Acho que deveríamos entrar – eu disse.
Levantamos e caminhamos até a Base Lunar, agora
com Brandon comentando “Nossa, vocês são barra pesada mesmo” sobre a matéria
das irmãs de Austin no Universo por Sivan.
– Chloe, a Biblioteca ainda está aberta? –
perguntei enquanto andávamos pelo corredor.
– Está sim – respondeu.
Andei por alguns corredores e cheguei à
Biblioteca sozinho. Logo que entrei as prateleiras metálicas brilharam com seus
vários livros. Estive há alguns dias lendo o livro que todos falavam, o livro
que o descendente James Allister – que curiosamente tinha o mesmo sobrenome que
eu – havia escrito extraído da estrela Sirius, há mil anos atrás. Os livros de
metais quase pareciam um só na posição vertical, exceto por um, negro como a
escuridão.
Abri-o.
Foleei algumas páginas e não havia nada escrito.
Fechei-o para certificar se havia pegado o livro correto. Era este. Abri
novamente e as páginas estavam em branco.
– Chloe! – gritei esperando que alguém me
ouvisse.
Ninguém respondeu.
Procurei em outras prateleiras se havia outro
livro negro que fosse realmente o que eu estava procurando, mas não. Era sim
aquele.
– Chloe! – coloquei a cabeça no corredor e
gritei.
Olhei novamente para as prateleiras. Impossível tudo
ter se esvaziado daquelas páginas do nada. Os livros prateados tremeram. Prendi
a respiração quando uma camada de poeira surgiu vinda da prateleira principal.
– Chloe? – perguntei baixinho.
Os livros estavam ganhando cores, alguns eram marrons
escuros, outros cinza mais claro, vermelhos. O pó estava saindo à medida que a
prateleira, e agora o chão, tremia.
O chão tremeu e fui jogador involuntariamente
para cima e cai novamente. Uma prateleira atrás de mim tremeu e vários livros caíram
em mim. Ouvi um grito.
No meu colo estava um livro verde musgo grosso e
fedido, li o titulo que estava quase desaparecendo na capa de veludo: O Guia Definitivo para Jovens Estrelas,
escrito por J.A.
Eu conhecia aquela sigla.
Joseph
Allister.
Meu pai.
Nada importou mais naquele momento. Abri o livro
com calma e uma camada de poeira se impregnou em minha mão.
O Guia
Definitivo para Jovens Estrelas
Escrito por Joseph
Allister
Um guia da história e
magia do Universo para seres iluminados - Edição Única.
– Peter, corra! – ouvi um grito. Era Brandon.
Tomei um choque de realidade. Algo estava
acontecendo, consegui ouvir barulhos de explosões e gritos.
Me levantei as pressas jogando para o lado todos
os livros que estavam em cima de mim, mas protegendo o Guia Definitivo para
Jovens Estrelas e o Livro de James Allister e abri a porta.
Brandon e Chloe corriam em minha direção. Atrás
deles, Herbig estava irreconhecível. Ele parecia pegar fogo, mas um fogo roxo
escuro que o deixava com uma aparência péssima. Seus músculos incharam,
deixando seu corpo totalmente desproporcional para uma criança e seus olhos estavam
brancos, brancos como uma nuvem em um dia ensolarado.
– Sai daí, Peter! – gritou Chloe.
Eu deveria ter voltado para dentro da biblioteca
e me trancado para ser salvo da ameaça, mas não: saí para o corredor.
Os dois passaram por mim e Herbig estava vindo.
– Herbig, me escute! – tentei dizer. Ele estava
erguendo as mãos.
– Peter! – a voz de Brandon ecoou no corredor.
– Herbig, pare! Você não está agindo por si próprio.
Está sendo controlado – gritei o mais alto que pude.
Herbig ergueu a mão, uma pequena bola roxa que
transluzia uma força negra surgia em sua mão.
– Seu irmão não morreu por culpa de Austin,
Herbig. Nós estavam...
Ele se moveu tão rápido quanto a velocidade da
sua bola roxa veio para cima de mim. Os gritos de Chloe eclodiram junto com
minha única tentativa de me salvar: de usar um escuro. Levei o Livro de James
Allister a frente de mim um milésimo de segundo e senti uma força enorme, como
se um carro estivesse tentando passar por cima de mim, porém eu estava o segurando
com as mãos.
O barulho também não era nada agradável, um fino
ruído explodiu em meus ouvidos e me fez gritar. Minhas mãos queimavam. Eu
estava entendendo: o livro estava me protegendo.
Herbig deu um grito e lançou outra bola de matéria
escura que me fez toda a força. O livro explodiu em minha mão e toda a força
negra que saiu de Herbig ecoou para trás atingindo-o e jogando-o no chão.
A dor era imensa. Minhas mãos queimavam, mas o
importante não era isso: eu havia realmente perdido a única chance de saber o
que destino me reservava no Universo.
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